sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A cura

Há quem chegue a determinado patamar da sua vida e perceba que, ao olhar para trás, toda a sua vida foi feita de decisões que, apesar de suas, foram influenciadas e tremendamente pressionadas por outros. Em grande parte, a familia (como era de esperar).

Quando uma pessoa se sente infeliz e percebe que, a sua vida foi subtilmente (ironia) conduzida por mãos no leme que não as suas, a revolta nasce. Conheço esta revolta! Conheço o sufoco de querermos fugir de algo que nos faz, efectivamente, mal e não termos qualquer apoio para seguir noutra direcção. E, como consequencia disso mesmo, falta-nos o apoio, a logistica e a coragem para abandonarmos um caminho que já nos é conhecido e por isso tomamo-lo como estável, para um outro caminho de incertezas, surpresas e instabilidade, ainda mais sem qualquer suporte logistico e emocional dos que mais nos são proximos. Meu Deus, como a dor e a revolta é tremenda! Chegamos a ter a certeza que aqueles que deveriam ser os elementos que mais nos deveriam amar e querer bem, são exacta e precisamente aqueles que nos estão a amarrar ao que nos faz infeliz e a bloquear um caminho que queremos percorrer e que vislumbramos de felicidade.

Em retrospectiva agrada-me perceber que existem duas grandes decisões na minha vida que "adaptei" em função do que me foi dito que seria o melhor para mim. Confesso que não as senti realmente no meu coração como decisões certas mas, tomei-as como sendo realmente as mais acertadas por ouvir as vozes daqueles que tomo como sendo os que mais me amam e me querem melhor.
Talvez pela natureza do meu ser, pela minha necessidade de ser independente, pela minha persistência e casmurrice quando se trata na gerência da minha vida, as decisões que agora identifico como "decisões influenciadas" (chamemos-lhe assim) foram decisões "intermedias, ou seja, foram negociações ponderadas entre o que realmente eu queria e o que, suibtilmente, a minha familia me levou a fazer. Digo subtilmente por que sendo eles conhecedores do meu génio de determinação, sabem bem que só poderiam manipulara minha decisão em pequena percentagem e, assim, dentro do campo da minha decisão, convenceram-me que poderia modificar nuances para meu proprio bem. Nuances que, anos volvidos, se percebem que são bem mais que isso.

Entristece-me olhar para estas decisões e para o destino onde me trouxeram. Entristece-me, revolta-me, doi-me. E depois sigo em frente. Até doer outra vez!

Imagino só quem, por motivos diversos e todos eles válidos (assim o vejo), tomou grandes e repetidas decisões na sua vida com base na pressão da sua familia. É um sofrimento continuado e uma revolta dificil de gerir.
Ainda assim, é possivel fazerem-se as pazes com quem  nos roubou o leme e connosco proprios por o termos permitido.

É possivel resolver a dualidade encarcerada em nós da nossa voltade cedida em prol da opiniao de outrem, e o sentimento de alivio e desresponsabilização que isso nos trouxe no momento.

  Não nos podemos é esquecer que, apesar de toda a dor e revolta que nos traz uma retorspectiva da nossa propria vida, desprovida de sentimento de realização e comando, sentindo quase que não a vivemos como desejavamos, que toda uma vida (a nossa) foi vivida como que por alguém que não nós, ao sabor de uma maré que desconhecemos, mas contra a qual também não lutamos, alimenta um vazio brutal em nós.
 
 E (aqui fica o essencial da cura!) quando nos deixamos levar por este vazio; tomando refugio nele como desculpabilização de toda a nossa dor e sentimento de impotência; como desculpa e refugio de toda a nossa revolta e incapacidade de aceitação que assim foi e é a nossa vida,; quando, por estes condicionamentos que nos foram ensinados ao longa da vida, sentimos que é dificil ou inutil agarrar o leme da nossa vida; quando assim é e quando continuamos a tomar decisões (nossas!) mas ainda dependentes destes condicionamentos, estamos a perpetuar o ciclo que, em primeira instância provocou todo este vazio. Estamos, de forma indirecta, a atribuir e perpetuar poder a quem nos roubou a vida em primeiro lugar por que as nossas decisões continuam a ser tomadas nos moldes que nos foram impostos.

  E assim, estamos a alimentar o problema, snedo incapazes de sermos pessoas decididas, firmes, mas amorosas, tranquilas e flexiveis perante as surpresas que a vida vai, aleatoriamente, trazendo. Acreditamos que não somos fortes o suficiente para tomar o leme da nossa vida por que alguém sempre tomou esse lugar por nós.

  Acreditemos então que somos capazes! Por que somos! Não perpetuemos o ciclo contra o qual nos revoltamos. Tomemos as redeas! Valorizemos o que temos de bom, alimentemos as nossas relações de amor, não procuremos a cura em todo o canto, esquina, cão ou pessoa. A cura não está lá fora: está dentro de nós. E cada "decisão certa", de amor e rectidão que tomamos, é um comprimido que tomamos para alivio e cura da dor. O oposto são meros alimentos e adubos daquilo que pretendemos fugir.

  A cura passa pelo prazer duplo de tomarmos a decisão acertada que o nosso coração grita e pelo prazer de estarmos a aniquiliar, aos poucos, parte do vazio.

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