sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Porque há gente e gente...


Porque há gente e gente...

Porque há gente que marca, que não se esquece, que se repete e re-repete nas nossas cabeças, que a ausência é sentida de forma pesada... e há gente que passa levemente e de quem só nos lembramos ocasionalmente, e se formos lembrados!


O Sr. Abreu (nome fictício, e que pena tenho de não ter coragem de escrever o teu nome porque doi demais) faz parte do rol de pessoas de quem não me esqueço.


O Sr.Abreu era um paciente a quem tinha sido detectado um tumor cerebral não operável! Conheci-o quando o dignostico ainda não era conhecido. Ainda só se somavam uns sintomas que camuflavam tudo.


A sua esposa era toda a familia que tinha e vice-versa. Eram o casal mais amoroso e apaixonado que conheci. Uma união e um brilho nos olhos de adolescentes apaixonados. Não se largavam e nunca deixaram de se amar. Olhava para eles e sorria involuntáriamente. Eu e todo o serviço de Urgência! Tornaram-se um casal conhecido. Para mim eram a prova viva do não-comodismo amoroso e da verdadeira paixão e felicidade eterna! Soa tão fantasioso, até a mim mesma, mas sei tão bem que isto é verdade!


Estava de serviço no primeiro dia em que ele entrou aqui. Estava de serviço no dia em que se sentiu mal. Estava no dia em que caiu. Estava de serviço na maioria dos dias em que ele aqui veio parar!


O seu sorriso começou a ser diferente, o seu olhar começou a ser perdido... o tumor nunca parou de crescer! O meu amigo Sr. Abreu a degradar-se à minha frente! À nossa frente: minha, da esposa e de todos os que aqui o viam.


Um dia desmaiava. No outro estava bem. Um dia deixou de mexer o lado esquerdo. Um dia começou a trocar as palavras. Um dia deixou de conhecer as pessoas. No dia seguinte já as conhecia. Um dia não sabia quem era... E a esposa nunca o deixou. Esteve sempre ali. Até quando o Sr. Abreu ficou acamado sem conseguir sequer controlar as suas necessidades. Era ela que lhe trocava a fralda!Era ela que lhe dava banho! Era ela que o alimentava! Ele já não a reconhecia, mas ele era o seu amor! Era ele que ali estava encerrado entre as paredes daquele craneo e a pressão de um tumor! Ninguém iria cuidar melhor do seu marido do que ela própria!


Perdi muitas horas da minha vida a conversar com eles!


No seu último dia de vida ele continuava sem reconhecer a mulher! Mas quando entrei na sala onde estava, ele reconheceu-me! Chamou-me pelo nome! Perguntou como eu estava e o que fazia ali (sabia o meu nome mas não se lembrava que eu trabalhava ali, afinal eu já não era uma funciónária, era uma amiga!).


Dia 1 de Janeiro de 2009 pela manhã, bem cedo, o Sr. Abreu faleceu ! ! !


Sr. Abreu, lembro-me de si inumeras vezes. Não passsou na minha vida por acaso!


Choro a sua morte até hoje!


E meu amigo J. Como te amo!!! Amo-te com todo o coração! Foste tu que me deste um ombro amigo quando estava a lidar com tudo isto! Choro ainda mais quando me lembro da atitude que tiveste comigo! Nunca ninguem me apoiou daquela forma, nunca ninguem me ouviu como tu!

Quero que saibas o quanto te AMO por isso!


Sr. Abreu, hoje que é dia 1 de Janeiro de 2010 e que estou de serviço novamente... nem sei o que lhe diria se soubesse que me podia ouvir! Acho que iria só sorrir-lhe e agradecer-lhe por tudo o que veio despoletar aqui dentro.

2 comentários:

  1. o meu cunhado de 36 anos tem o mesmo problema.existe a possibilidade de trocar algumas informações...por favor?:( claudiacouto77@hotmail.com Obrigada....

    ResponderEliminar

Simplicidades