quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Por detrás do que está escrito #2

"Sabes, a minha vida tem sido um excesso permanente, uma espécie de alavanche a escorregar montanha abaixo. Não tem havido pecado que não me manche, vicio que não me seduza. Tenho 36 anos agora e, às vezes (eu, que tenho terror de aviões), do comigo, a bordo de um avião, quando aquela improvavel invenção de metal começa a abana como se tivesse acabado de descobrir a lei da gravidade, a pensa friamente: "Se esta merda cair agora, como é lógico que aconteça, é justo que assim seja: já vivi de mais, três vidas numa só, trezentos e sessenta anos em tinta e seis. Podes cai, avião: juro que não me vou queixar de ti."

Miguel Sousa Tavares, No te deserto, quase romance, p.105.

3 comentários:

Simplicidades