sexta-feira, 24 de julho de 2009

Declaração Inesperada




Estava a trabalhar. Atarantado diz-me: "Dás-me um papel e uma caneta? Tenho de pôr um pensamento no papel". Escreveu, pousou a caneta, empurrou o papel na minha direcção e partiu.


Assim ficou registado:


"Passos perseguem-me


e eu caminho sobre os teus passos.


E ao chegar deti-me nos teus olhos


E pensei que uma vez mais


Ainda


Renascia das minhas muitas mortes


Depois ouvi a tua doce voz


E a alma que existe em mim


Ergueu-se inteira e


Despida


E floriu


Sob o Sol


Do teu gesto!"




Achei o poema verdadeiramente espectacular. Como pode um corpo moribundo e podre encerrar um intlecto assim?


Por todos os motivos obvios fiquei sem saber o que responder, dizer ou fazer. Ainda não sei bem qual a atitude politicamente correcta. Mas para mim a sentimentalmente correcta foi mesmo guardar o poema (não me consigo desfazer dele pela sua beleza poética) e ignorar qualquer facto que a ele se associe! Fingir que nem o li sequer, precaver-me e treinar (mais uma vez) a minha arte da fuga!

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Simplicidades