Estava a trabalhar. Atarantado diz-me: "Dás-me um papel e uma caneta? Tenho de pôr um pensamento no papel". Escreveu, pousou a caneta, empurrou o papel na minha direcção e partiu.
Assim ficou registado:
"Passos perseguem-me
e eu caminho sobre os teus passos.
E ao chegar deti-me nos teus olhos
E pensei que uma vez mais
Ainda
Renascia das minhas muitas mortes
Depois ouvi a tua doce voz
E a alma que existe em mim
Ergueu-se inteira e
Despida
E floriu
Sob o Sol
Do teu gesto!"
Achei o poema verdadeiramente espectacular. Como pode um corpo moribundo e podre encerrar um intlecto assim?
Por todos os motivos obvios fiquei sem saber o que responder, dizer ou fazer. Ainda não sei bem qual a atitude politicamente correcta. Mas para mim a sentimentalmente correcta foi mesmo guardar o poema (não me consigo desfazer dele pela sua beleza poética) e ignorar qualquer facto que a ele se associe! Fingir que nem o li sequer, precaver-me e treinar (mais uma vez) a minha arte da fuga!
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Simplicidades