sexta-feira, 30 de agosto de 2013

que é feito ?

sem tempo para mais, peguei no meu porta moedas e corri para fora do edifício para conseguir, no mesmo passo de correria, tomar o meu café da manhã. Este gesto já é automático e instintivo cada vez que sinto a necessidade de abastecer os meus níveis de cafeina. É um gesto rápido e oportunista, visto que se não o faço naquele segundo a oportunidade de sair do gabinete pode ser seriamente comprometida.
E assim ia eu, de fugida e em piloto automático, de passo apressado para tomar café!
- Meniiina! -oiço eu! Um tom doce chama por uma menina. Olho para o palrador: era dirigido a mim.
- Oh ... Senhor Antóniio!! - digo, enquanto o meu passo apressa em direção a ele.
Tive vontade de o abraçar. Forte! Tive vontade de chorar. Estranho: senti este encontro como uma despedida.
O Sr. António é um doente crónico. Homem sozinho no mundo. Uma figura sempre aprumada, sempre educado e de sorriso tímido. aparecia quase todos os dias quando eu trabalhava na urgência. Nunca conheci um doente tão carente e sozinho, mas tão respeitador do nosso espaço, sem nos exigir qualquer atenção especial, sem nos querer roubar tempo algum, sem nos cobrar nada. Foi o único doente nestas condições que manteve sempre a sua doçura, o respeito, a amizade sem nunca deixar a sua solidão e necessidade de apoio ser mais forte que ele e cobrar-nos parte da sua cura através da nossa atenção.
Ao contrario, exatamente ao contrario de todos os outros, este senhor aparecia sempre TODOS OS DIAS, com um sorriso, uns minutos para nos olhar nos olhos e perguntar se estava tudo bem. E sempre com um saco de rebuçados ou caramelos que ia distribuindo a mão cheia por todas nós.
Não o via há cerca de um ano. Vi-o nesta manhã. O sorriso doce era o mesmo e a sua mão segurava uma dúzia de rebuçados de morango.
Fiquei tão feliz por o ter encontrado. Tão feliz! Ele demonstrou a mesma felicidade. Foi um encontro mágico!

Ali, parei! Ali percebi que a minha ligação com as pessoas é uma vertente bastante forte na minha vida. Sinto falta! Sinto falta de segurar uma mão quando essa pessoa precisa. Sinto falta de sentir que ajudo. Sinto falta de estar em contacto com diferentes pessoas. De ser um campo neutro onde podem depositar emoções e desabafos.

Espero que o meu coração esteja errado Sr. António. Espero que este encontro não tenha sido na verdade uma despedida, tal como o meu coração o sentiu. Espero receber muitas mais mãos cheias de rebuçados seus. Espero ver o seu sorriso em muitas mais manhãs.
Apesar de me emocionar com isto, as lágrimas são mais de gratidão do que de tristeza. Estou grata por ter tido a oportunidade de conhecer estes exemplos de vida e por ter nutrido relações tão impares com pessoas que me eram totalmente estranhas.

Relembra-me que tenho de ponderar o meu caminho...

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