quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Once upon a time...

Once upon a time, eu "apaixonei-me" por um rapaz que já conhecia há muito tempo. Com quem mantinha uma relação de amizade distante em termos espaciais, mas próxima em termos afectivos. Partilhavamos os nossos dias através das fantásticas tecnologias da comunicação e, acima de tudo, partilhavamos tudo o que era fútil (que provava a nossa necessidade em ter o outro sempre por "perto") e o profundo (que demonstrava o á-vontade e a confiança que se veio estabelendo).

Um dia, 2 de Janeiro, estava eu com um coração desde há muito ressacado de uma relação "yo-yo", que tanto era maravilhosa durante alguns dias, como era terrivel nos dias seguintes (com a clareza que a distancia proporciona posso até questionar a nomenclatura "relação" utilizada neste caso). Mas enfim, a verdade é que o meu coração estava ressacado, ressequido, esgotado e mal tratado. Neste maravilhoso iniciar de ano o meu amigo beija-me!

Mas que beijo MEU DEUS (merece até um paragrafo só a ele dedicado).

Estavamos a conversar e a rir das consequentes parvoices que diziamos e eu estava deveras a ficar incomodada pela forma fixa e absorvente como ele me olhava. Parecia que sugava cada palavra minha, cada suspiro meu, cada risada atrapalhada até que um beijo roubado com toda a sofreguidão de quem queria surgar-me a vida!E um beijo foi tudo o que foi necessário para se seguirem promessas, convites, declarações... como se o beijo tivesse chegado tarde e fosse o declarado início de um relacionamento programado.

Como é habitual isto assustou-me. Satisfez-me de forma louca e fez-me sorrir, mas principalmente assustou-me.

Isto arrastou-se até Fevereiro do ano seguinte. Foram tempos de uma ginástica emocional em que os treinos consistiam na minha capacidade de resistência e flexibilidade: tinha de resistir a cometer aquilo que achava uma loucura (assumir uma relação com esta pessoa) e tinha de ser flexivel para continuar a adora-la, encontra-la e beija-la sem que passassemos a namorados nem deixassemos de ser amigos.Eu recusava-me a acreditar que os votos e promessas que esta pessoa me fazia fosse veradeiros. Achava sempre que seria só uma tentativa de levar para a cama, de me fazer rastejar por ele e, por isso, mantive-me sempre à tona da situação, sendo sempre firme e dona de mim mesma, estando amorosamente com ele sem nunca levar a sério as suas promessas e dizeres, desvalorizando-as constante e persistentemente como forma de me escudar contra os seus ataques (que eu achava) manipulados.

Temia um relacionamento com esta pessoa como uma ovelha teme um lobo. Os seus compratamentos borderline e o seu passado nublado faziam-me temer uma ligação que a minha cabeça avisava torbulenta.

Assim, Fevereiro foi o mês em que esta pessoa passou por mim num encontro inesperado na rua e não me dirigiu palavra. Aquilo fez-me uma confusão terrivel. Eu tinha a certeza que ele me tinha visto. como era possivel tamanha expressão de indiferença e uma descontração de tal ordem? Literalmente de uma hora para a outra. Senti que tinha razão quanto a ele. Senti que todos os meus medos que ele tanto se esforçava para me convencer que eram infundados, afinal tinham todo o fundamento. Seguiram-se algumas não-respostas a algumas mensagens minhas.

Neste caso senti que todas as defesas que tinha criado me estavam a ser bastante úteis: à terceira não-resposta deixei por completo de enviar qualquer tipo de mensagem; à presença da tal pessoa no mesmo espaço que eu ignorava por completo adoptanto não uma atitude arrogante mas sim de descontração; nunca pedi qualquer tipo de explicações nem nunca questionei nada. Deixei as coisas morrerem de forma pacifica e assim tudo ficou. Até ao dia que, claro, ele assumiu uma namorada. Aí vi a forma como ele a tratava, a forma como lhe falava e percebi que, afinal tudo o que eu tinha vindo a desprezar e a desvalorizar, assumindo como meras atitudes manipuladas para me enfeitiçar, eram na verdade geniunas.

Esta pessoa era capaz de amar. O seu lado carinhoso não era, na verdade, uma máscara apropriadamente utilizada para enfeitiçar meninas e dirigi-las ao precipicio.No dia em que o entendi não houve defesas que me protegessem: doeu de forma não-pacífica!

Daqui quero tirar uma lição: não quero jamais desvalorizar ou desprezar os sentimentos dos outros. Passei quase um ano a faze-lo e a magoar esta pessoa descredibilizando-o constantemente. Não vivi até ao potencial máximo o que poderia ter vivido com esta pessoa porque constantemente me protegi e o desvalorizei.

Não quero voltar a faze-lo.

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